“Odeio muito tudo isso” é uma obra para jovens e adultos. Portanto, é um livro para todos e para ninguém. Tem a pretensão de vir a público como um irmão - embora bastardo, pobre e humilde - do grande e cultuado “O apanhador em campo de centeio”. A personagem principal de ambos é similar, universal, complexa: um jovem em busca da identidade própria. O tema, igualmente, é semelhante em ambos: as aventuras e desventuras de um adolescente tímido e inseguro, mas original, inconformado e sarcástico, num contexto social e familiar caótico, destroçado e à deriva. As semelhanças param por aí. Ao primeiro olhar, Ráu – a personagem central de “Odeio muito tudo isso” – retrata o universo jovem contemporâneo. Ás voltas com suas dúvidas e incertezas, angústias e mágoas, ele tenta abrir caminho no mundo dos adultos e se depara com a hipocrisia, a falência de valores morais e éticos, o esfacelamento da família, a podridão da sociedade. É o rito de passagem de um menino para a idade adulta - a dolorida, traumática e difícil transição que marca o período que antecede a entrada no mundo “dos mais velhos”. Esse é o “gancho” do livro, elaborado para quem não enxerga além das aparências. Nas entrelinhas e como pano de fundo, de forma sutil e supostamente ingênua, se desenvolve um mundo e questões paralelas. Num segundo olhar, mais atento e apurado, peculiar a quem vasculha e procura, se pode encontrar senão respostas, sem dúvida questionamentos comuns a todos nós – jovens e adultos. Logo, “Odeio muito tudo isso” possui múltiplas e diversas facetas. Quem se propõe a descobri-las?
(180 páginas – 2008)
